sábado, 28 de novembro de 2009

Tarefa tamanha


No Sábado passado tive um acidente de automóvel. A coisa não esteve mesmo para brincadeiras mas...na verdade, não estou aqui para te falar de como eu sou um desgraçado do caraças que não tem sorte nenhuma na vida nem para esmiuçar todo o drama envolvido na cena.



Estou aqui para falar daquilo que aprendi com isso.



Para começar, deixa-me lançar esta ideia na tua cabeça (mais uma vez):

Evolução implica dificuldades. Não há volta a dar a isto e é bom que te habitues à ideia.



As dificuldades estão para o desenvolvimento pessoal como os pesos estão para o bodybuilder.



Alguém que tome a decisão de evoluir tem de esperar apanhar grandes contratempos e dificuldades na sua caminhada tal como alguém que tome a decisão de trabalhar o corpo tem de esperar apanhar e ter de levantar grandes pesos no seu treino.



Quando as coisas começam a aparentar estar a entrar nos carris, o comboio descarrila e voltamos à estaca zero. Quando após meses (por vezes anos) de trabalho árduo e diligente, começamos a ver a ponta do iceberg, a, finalmente ver e entender a “big picture” e que tudo aquilo valeu a pena, acontece algo inesperado que nos troca as voltas e nos deixa completamente desorientados sem saber o que fazer ou o que pensar.



Este é um ciclo vicioso que só termina para as pessoas que têm uma vontade de ferro e que seguem de tal forma concentrados no caminho da evolução que, mesmo que apareça um camião a toda a velocidade na sua direcção eles não param de andar em frente.



É evoluir ou morrer. Não há 3ª opção.



Não estou a tentar assustar-te. Evolução Pessoal não é como um demónio que te vai atormentar até ao fim da eternidade. Evolução pessoal é mais como os 100m barreiras: É mais difícil do que correr em linha recta mas quando chegas à meta e olhas para trás, vês todos os obstáculos que ultrapassas-te e vês como eles te ajudaram a evoluir e a ficar mais forte.



Então e que mais se aprende a mandar um carro novo para a sucata?



Grupo de amigos:

Rodeia-te de pessoas que chegam ao pé de ti e dizem coisas como “Hey! Estou contigo, não importa o que se passou, vamos dar a volta por cima!” ao invés de “Fogo, não queria estar no teu lugar, tás metido numa embrulhada...”



Não é que o 2º não tenha razão (normalmente até tem) mas a razão dele não te vai ajudar em nada. Por outro lado a, eventual falta de razão do 1º, vai.



Isto passa por ser selectivo com as pessoas que permites que interajam de perto contigo em qualquer área da tua vida. Pessoas que não valorizem o problema, valorizem a solução. Pessoas optimistas, integras e sempre dispostas a ajudar, a colaborar e a partilhar.



Esta, por si só, é uma das coisas que mais te pode ajudar porque se te dás com pessoas desse calibre tens tendência a ser como elas. Claro que vais encontrar problemas na mesma mas não os verás como “cabos das tormentas”, apenas como...cabos...que, se pensares bem, é o que eles são. Vais andar sempre bem-disposto e rodeado de sentimentos positivos em vez de medo e pensamentos desnecessários.



Se não usares mais nada do que falo aqui, usa isto. Rodeia-te de pessoas de qualidade e enche a tua vida de sentimentos positivos e alegres.

Se isto, só por si, não mudar a tua vida nada o fará.  



Tentar resolver, por todos os meios ao teu alcance, o facto que causou o problema.



Para quem conhece a curva onde eu tive o acidente sabe pelo menos mais uma coisa sobre esse local: Muita gente já lá deixou o carro e até a vida.



O mais certo é tu próprio também conheceres algumas destas “pérolas rodoviárias”. E a pergunta que eu faço é: Porque é que as pessoas continuam a ter ali acidentes?



Simples: Porque ninguém resolve o problema que os tem causado...



Ou seja, as pessoas têm um acidente, partem o carro todo, vão para o hospital, recuperam e lá prosseguem com as suas vidas.



Nem sempre nos lembramos de quebrar o ciclo.



Nem sempre cuidamos de fechar a porta quando saímos.



Nem sempre zelamos pelo interesse do próximo...que no caso dos outros, podemos ser nós próprios...



Se vês uma pedra ou um ramo de árvore caído na estrada, não te limites a desviar-te dele e a seguir viagem, perde 2 minuto da tua vida e pára o carro para o tirares de lá. (Não, a Brisa não me pagou para fazer este post)



Na verdade deves fazer isso com todo os “ramos caídos” que aparecem na tua vida.

Tenta sempre ser a última pessoa a ter tido o problema. Imagina só como seria se todos pensassem assim.



Uma outra coisa que aprendi foi a dar mais valor à vida e a ter maior consciência da nossa pequenez.

As pessoas ouvem falar de acidentes a toda a hora nos meios de comunicação social e a coisa como que se “entranha na normalidade” e, perdendo-se a noção do que é que se está ali a falar, continua-se a agir como se nada fosse.





Talvez seja uma coisa óbvia de se dizer mas...um acidente é um acidente, não é a noticia de um acidente. Uma guerra é uma guerra, não é a notícia de uma guerra. Há uma enorme diferença entre morrerem 100 000 pessoas ou 100 001 pessoas. O hábito noticioso desvaneceu essa diferença tornando-o apenas mais um número.



Não quero fazer deste post um ode à morte mas é urgente ganharmos consciência dela.

O turbilhão dos nossos dias leva as pessoas a viverem como se fossem eternas e imortais esquecendo que somos todos humanos. Aqui não há heróis que desviam as balas com os dentes nem cães que ganham super-poderes ao comer amendoins torrados, aqui somos todos feitos de carne e osso. Para o bem e para o mal.



a diferença que desejas ver no mundo,



Vive cada dia como se fosse o primeiro.



David Veríssimo
planeta.marte@portugalmail.pt ou planeta.venus@portugalmail.pt 

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O elefante e a árvore

Os primeiros anos de vida de um elefante do circo são pautados por um «treino» extremamente ilustrativo: A criatura é atada por uma pata, com uma corrente para ele inquebrável, a uma árvore para ele impossível de mover. Mesmo assim, ele desafia a lógica durante meses a fio.

Luta, guiado pela natural ansiedade de ser livre de qualquer animal. Magoa-se e ignora os impulsos nervosos que chegam ao cérebro cada vez que a corrente nega a sua fuga desesperada. Sofre e deseja mais sofrer se isso lhe quebrar a corrente.

Nada disso lhe vale. Então, desgastado pela teimosia da sua prisão ele acaba por ceder…a derrota estampa-se-lhe na cara como se a partir dali nada mais fizesse sentido.

Ele continua a crescer e torna-se adulto. A força bruta que ganha com isso e que demonstra nas suas constantes actuações não parecem convencê-lo de que será capaz de arrancar a pequena estaca cravada alguns centímetros no chão, que entretanto substituíra a árvore.

 Vive até ao fim dos seus dias, novamente aprisionado, num outro tipo de prisão bem pior que as grossas e pesadas correntes de ferro…a prisão mental.

O poderoso animal não escapa por não ter as capacidades necessárias para isso mas porque crê, no seu íntimo, que não é capaz...

Diz-me uma coisa, quantas vezes as circunstâncias da vida te obrigaram a agir e a enfrentar um grande obstáculo? Quantas vezes descobris-te que o obstáculo afinal nem era assim tão alto? Quantas vezes já te apercebes-te que tinhas muito mais capacidades e muito mais forças do que julgavas ter?

Pois...eu tenho uma novidade para ti: As amarras que nos prendem são sempre mais grossas, mais fortes e mais vívidas na nossa mente do que no mundo físico. Por isso pensa bem. Quantas estacas há na tua vida que, ilusoriamente, te prendem?

Quando foi que desistis-te daquele teu sonho que te aquecia tanto o coração?

Quando foi a última vez que acreditas-te que era possível concretizá-lo?

Não será uma boa altura para confirmar se a árvore ainda lá está?

...

PERSISTE!

Quando pensares que chegas-te ao fim das tuas forças: Persiste!

Quando toda a gente te apontar o dedo e rir na tua cara: Persiste!

Quando todos os teóricos do mundo conseguirem provar cientificamente que as forças que te movem estão erradas: Persiste!

Quando olhares para trás e vires 100 000 pegadas tuas na areia do deserto...dá só mais um passo.

Persiste. Insiste. Resiste.

Vai chegar o dia em que o impossível ganha forma. Vai chegar o dia em que, de repente e sem aviso prévio, a vida troca a tua árvore por uma estaca de 30cm.

Se deixares de insistir, nunca darás conta da troca...

Acredita em ti!

David Veríssimo

“A persistência é favorável.” - I Ching

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O mistério dos fumadores suicidas

Já por várias vezes disse aqui coisas menos agradáveis sobre fumadores. Provavelmente já percebes-te que não sou lá grande fã da classe. Provavelmente tu próprio(a) és fumador(a) e não gostas-te lá muito da brincadeira. Provavelmente estás a segundos de mandar este blog às urtigas.

Mas relaxa. (Sem a ajuda de um cigarro, de preferência...)

Talvez hoje aprendas algo verdadeiramente útil sobre o tema.

Hoje estava cá a pensar num e-mail que recebi há uns tempos de uma rapariga fula com o mundo que achava que isto estava mal, aquilo estava péssimo e o outro estava horrível. Como notei tão grande energia negativa, o conselho que lhe dei na altura foi que não usasse o que está mal no mundo para justificar o ódio que crescia dentro dela. Disse também algo que tenho vindo a repetir aqui: Queixar-se das pedras que há no caminho não as fará desviar. Montar manifestações com cartazes a dizer coisas como “Morte às pedras” ou “Areia é que é bom” não vai dar em nada que se apresente. Quer dizer...as pessoas realmente vão andar com mais atenção às pedras no caminho mas começará a haver mais atropelamentos de pessoas distraídas a olhar para o chão, mais pessoas deprimidas com medo de cair e o caminho nunca será alcatroado porque no meio de tanta conversa fiada ninguém se lembrou de gastar 30 segundos a ligar à malta dos alcatroamentos.

As pessoas perdem demasiado tempo a falar do que está mal e pouco tempo a agir para o por bem. Muito queixume, pouco resolver o problema.

Portanto, hoje resolvi dar um descanso aos fumadores e seguir os meus próprios conselhos :)

Hoje vou dizer aquilo que eu acho que precisas de saber para resolver o problema do tabaco. Não te vou vender nenhuns adesivos para a pele nem pôr-te a escutar músicas com o chilrear dos passarinhos. Vou fazer a única coisa que pode libertar-te naturalmente da necessidade de fumar: Vou-te explicar-te o porquê de tu fumares. E a melhor parte é que não te vou cobrar nada por isso :)

Porreiro, vamos lá então.

Ora bem, se queres parar de fumar precisas antes de mais nada de, saber o que é que te leva a fumar. Faz sentido?

Fixe.

Como já vimos antes, tu não desejas verdadeiramente ter doenças e pagar para esticar o pernil mais cedo. Então porque fumas tu se, aparentemente, não tens benefício nenhum com isso?

Hmmm...

Talvez estejas a pensar num determinado componente do cigarro...

O problema aqui é que aquilo que tu pensas que te leva a fumar não é o que na realidade o faz...

O que tu pensas que te leva a fumar é a nicotina. Certo?

Mas não é. O facto de teres uma ideia errada do que provoca a tua dependência faz com que, ao tentares resolver essa dependência uses métodos que se focam nas causas erradas.

Ok, em parte, tens razão é verdade. De facto, é sabido que a nicotina provoca um efeito aditivo no teu cérebro mas há um outro factor que nunca ninguém tem em conta e que, na verdade tem bem mais responsabilidades por tu fumares: Intranquilidade.

Como assim? (Perguntas tu, que és um gajo atento)

Boa pergunta!

O que eu quero dizer é que fumar tem mais que ver com conflitos interiores e agitação do que propriamente com dependência de nicotina.

Como é que eu sei isto?

Simples. Se fumar tivesse que ver simplesmente com uma dependência de nicotina então as pessoas fumariam em espaços de tempo regulares e relativamente constantes, consoante o grau da sua dependência e não seriam significativamente afectados por contextos sociais mais stressantes.

Mas na verdade é isso mesmo que sucede. O que na verdade acontece é que as pessoas fumam nos momentos em que precisam de relaxar e ser tranquilizadas. É essa a razão.

A própria função da nicotina é apenas “esconder” a tensão durante uns minutos com umas bolinhas de prazer. Fumar não passa de um método/ritual para libertar tensão acumulada.

Senão pensa só nas alturas em que as pessoas puxam do cigarrito...todas elas são alturas de alguma forma stressantes que são precedidas ou antecedidas por momentos de ansiedade.

As pessoas começam a fumar porque estão sob pressão e geralmente continuam a fumar até ela aliviar.

Mas nunca conseguem.

Fumar é uma tentativa que as pessoas fazem para aliviar o stress mas o stress não pode ser genuinamente aliviado pelo cigarro uma vez que o que o causou não foi a falta dele.

Faz sentido?

Claro que faz.

Atenção aos mitos, pensa pela tua cabeça. Dizer que fumar reduz o stress é no mínimo dos mínimos, caricato...

Portanto, uma pessoa sente alguma pressão e, querendo aliviá-la, ela fuma um cigarro. Porreiro, a tensão diminui! Como vê que a coisa resulta, numa outra situação de stress ela fuma mais um cigarrito e a coisa vai resultando. Mais adiante, a pressão insiste em voltar e ela insiste fumar. Quando dá por ela está a fumar 2 maços por dia e se não fuma durante 2 horas fica stressada e irritadiça. É isso que acontece quando ela vai trabalhar e quando chega à pausa do meio da manhã, ela come à pressa para aliviar o stress com um cigarrinho no hall de entrada. Desta forma, os níveis de stress voltam ao normal e ela vai trabalhar até à hora de almoço, onde se repete a mesma lengalenga.

Ora bem, vamos lá ver se eu entendi bem esta história.

Portanto, a pessoa antes de começar a fumar tinha um ligeiro problema de stress. No intuito de o resolver, ela começa a fumar e, ao fim de uns tempos, já não consegue estar 2 horas sem tabaco sem ficar agitada. É isto? Estou a ver bem a coisa?

Não é por nada mas é que parece-me que o stress não diminuiu, aumentou...

O tabaco criou um stress que não estava lá antes e que só é “amansado” por mais um cigarrito, que por sua vez vai criando habituação e dependência.

Isto é a mesma coisa que eu contratar meia-dúzia de arruaceiros para provocar o pânico numa cidade e depois por a minha firma de seguranças privados prontos para serem contratados pela população. A população fica-me eternamente grata por eu resolver o problema, esquecendo um pequeníííííííííssimo detalhe: Também fui eu que o criei com o fim de dar lucro à minha empresa...

Ok. Então agora que sabes isto qual é a pergunta lógica a fazer agora?

Exacto: O que é que está a causar esse stress?

Aqui é que a porca torce o rabo.

Os factores podem ser muitos e tanto podem estar bem à vista de todos como podem estar bem escondidos no teu inconsciente...

Estudos recentes mostram que existe uma correlação clara entre ter sido ou não amamentado e a probabilidade de se tornar fumador em adulto. Este estudo revelou que, não só a maioria dos fumadores adultos dos nossos dias, como os que fumam em maiores quantidades, foram amamentados principalmente a biberão.

Por muito que custe a acreditar a muita gente, há uma razão para a natureza ser assim e não ser assado. Os bebés que não têm suficiente contacto com o seio materno raramente conseguem desenvolver um verdadeiro sentimento de conforto e segurança e passam de chuchar no biberão, para chuchar no dedo polegar, para chuchar no cigarro. Sempre em busca da inatingível tranquilidade.

Já agora aproveito para dizer que existe um outro tipo de fumador: O fumador social.

O fumador social normalmente só fuma em público. Isto significa que o único intuito é “vender” uma determinada imagem dele, às outras pessoa. Para isso ele tem uma data de gestos e rituais. (Fumar o cigarro não é um deles...)

A intranquilidade deste fumador é muito mais fácil de descortinar: Medo. Medo das críticas. Medo de ser rejeitado ou de não se impor no grupo. Medo de ser quem é.

Sendo mais fácil de saber qual é o problema também é mais fácil resolvê-lo: Crescer. Evoluir. Tornar-se num homenzinho.

Em termos de atracção o cigarro tem desempenhado também o seu papel. Entre as décadas 20 e 50 fumar era como decidir vestir uma gravata ou como comprar um sumo de laranja. Devido à publicidade enganadora, ninguém suspeitava sequer que o pequeno cigarrito tivesse o mais mínimo impacto na saúde e muitos estudos científicos chegavam mesmo a afirmar que trazia alguns benefícios. Sim, estás a ler bem: A indústria dizia claramente que o cigarro fazia bem aos dentes, que emagrecia (ainda hoje esta crença subsiste) e era indicado por médicos, dentistas e cientistas.

Olha-me só para estes anúncios:




A TV consegue passar praticamente qualquer ideia ou conceito que queria. Tal como a publicidade passou a ideia há 50 anos atrás de que o tabaco é bom para a saúde, hoje em dia com a ajuda do cinema conseguiu-se passar a ideia de que fumar é “sexy”. Por isso mesmo muitas mulheres decidiram começar a fazê-lo. Na verdade, neste momento existem muito mais fumadoras do que fumadores.

Isso fez com que o acto de fumar entrasse definitivamente no campo do cortejo e da atracção. O simples acto de um homem dar lume a uma senhora é uma forma de cortejo muitíssimo disseminada pelo mundo. Quer o admitam, quer não, a maior parte das mulheres fuma por todas estas razões sendo que a ideia base fundamental por detrás desse acto é a sua atitude de submissão implícita. Ou seja, ao fumar a mulher está a transmitir ao homem uma frase deste género: “Imagina só em que outras áreas é que eu posso ser persuadida a agir de forma pouco racional... ;)”

Conclusão: Fumar um cigarro é uma das muitas formas que as pessoas escolhem para lidar com a pressão do dia-a-dia. Há quem roa canetas, há quem roa as unhas, há quem roa estantes, há quem veja pornografia, há quem ria que nem um perdido e há quem pratique desporto. As possibilidades são infinitas. Se és um fumador viciado mas tens genuíno interesse em parar de fumar tens duas opções: A opção lógica é aprender a controlar as tuas emoções. Em último caso podes sempre arranjar uma outra forma de libertar pressão sem que necessária e literalmente ela te mate.

Cuida do teu corpo, cuida da tua mente.

David Veríssimo