terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A persona - Porque é que a cobra ataca?

Hoje o título é assim a atirar para o Zen e tal. Mas não deixa de ser pertinente.


Antes de rapares o cabelo com uma lâmina de barbeiro, de te colocares na posição de lótus e meditares durante 2 meses e meio no alto do monte Abraão vejamos...o que raio é uma persona? Os Espanhóis não teriam grande dificuldade em responder :) mas para nós de que se trata?


Bem, dando a resposta gira, persona era o nome dado à máscara usada pelos actores de teatro Gregos. A sua função capital era a de dar ao actor a aparência que o papel que estivessem a interpretar exigisse.


Já estás mesmo a ver como é que isto é transportado para as relações humanas certo?


Pois.


Nos dias que correm, as máscaras da antiga Grécia continuam a ser usadas com o mesmo propósito, apenas se tornaram máscaras psicológicas e sociais.


Por uma questão de adaptação social as máscaras persona sempre foram utilizadas pelas pessoas.


Quantas vezes não conheces-te já alguém que depois revelou ser o completo oposto do que aparentava?


Espera, deixa-me reformular a questão.


Quantas vezes já conheces-te alguém que daí a 5 ou 6 meses continuou a agir e a comportar-se exactamente da mesma forma que se comportava quando tu o conheces-te?


Eu não sei quanto a ti mas eu conheço muito poucas...


Antes de vermos o porquê disso acontecer vamos a mais um termo porreiro: Sociopata.


Deixa-me já dizer-te que, se les-te “maluco” les-te mal porque eu disse SOCIOPATA.


Aumenta o zoom das tuas páginas de internet em 200% e procura o profissional ocular mais perto de ti.


Um sociopata não tem obrigatoriamente de ter qualquer distúrbio mental, um sociopata na sua essência, é simplesmente alguém que não está disposto a comportar-se de modo socialmente aceite.


O que é que isto interessa para a tua felicidade?


Não muito, mas continua a ler que eu também não gosto de escrever para o boneco :)


Ok, então temos as máscaras persona e os sociopatas.


Dois opostos com o mesmíssimo propósito: Protecção.


Contra quê?


Boa pergunta! Vejo que estás atento ;)


Ora bem...


Já te puseste a pensar na razão que leva alguém a ser violento?


À partida podes estar tentado a dizer que uma pessoa é violenta porque é provocada mas isso não é bem assim...


Mesmo que fosse correcto colocar a responsabilidade da violência na provocação e não na pessoa, também ninguém responde violentamente a uma provocação.


Ele pode ser violento após ouvir uma provocação mas nunca por tê-la ouvido. Big diference.


Não foi a provocação que o tornou magicamente violento, ele já era violento antes de ser provocado, ela apenas realçou essa faceta.


É como o álcool ou o dinheiro. Quem tem muito de um dos dois nunca muda a sua forma de ser, antes pelo contrário, realça aquilo que já é.


As máscaras realçam o que ele não é.


Normalmente quando conheces alguém, tu não estás verdadeiramente a conhecê-lo, estás a conhecer a sua persona, a máscara que ele usa para se proteger do mundo.


Ele acha que sem essa máscara estaria acabado e as pessoas comê-lo-iam vivo.


Ele nunca experimentou tirá-la e confirmar.


Ele tem medo.


As pessoas usam as máscaras persona para protegerem o seu frágil ego. A violência é uma dessas máscaras. Serve para se protegerem de...violência. As pessoas são violentas porque temem ser magoadas pela violência alheia. As pessoas são tímidas porque temem ser magoados pela opinião alheia. As pessoas são exuberantes e fazem questão de se comportar de forma totalmente anti-social porque temem encaixar no socialmente aceite e assim ganharem alguns dos medos acima descritos. Ou seja, os sociopatas temem ser socialmente aceites e os socialmente aceites temem ser vistos como sociopatas.


Como já deves ter notado, e fazendo a ligação com o último post, a palavra que mais se repete é “temem”. O medo faz com que as pessoas se protejam...ao protegerem-se fazem-no com coisas que por sua vez metem medo ou apreensão nos outros. Nice :)

Pensa bem como funcionam as nações de todo o mundo. Topa-me só esta lógica.


Um país inventa uma bomba manhosa qualquer. Os outros países com medo de serem aniquilados por ela e sentindo-se impotentes no caso de confronto arranjam duas iguais aquela. Fixe. O que acontece a seguir? O país inicial que até nem tem razão nenhuma para entrar em confronto, mesmo assim sente-se na mó de baixo com uma bomba contra duas por isso, no puro intuito de “proteger” e “garantir a segurança dos cidadãos” arranja ainda outra bomba que aniquila meio mundo em meio minuto.


Sou só eu ou há aqui um pequeniiiiiiiino contra-senso?


Se ao fim de 300 ou 400 anos a estudar física nuclear e neurocirurgia fotovoltaica se chega à conclusão que para proteger as pessoas é preciso produzir bombas que as aniquilem então temo por futuros estudos sobre o tema e oficializo já que eu sou completa e irremediavelmente maluco porque sinceramente custa-me um bocadinho entender a lógica.


E nas máscaras sociais a lógica é a mesma.


Elas são uma tentativa inglória para sair inteiro de coisas tão brutais, avassaladoras e traumatizantes como...conviver com amigos, aceitar uma opinião contrária à nossa, mostrarmo-nos como somos ou dizer “olá” a uma desconhecida...


Respondendo à questão do título, a razão que leva as cobras a atacar as pessoas é exactamente a mesma que leva as pessoas a atacar as cobras.


MEDO.


É a chamada teoria do “ó filha, chama-lhe puta antes que ela to chame a ti”.


A violência provem do medo não provém da "garanhonisse". Logo quem é violento está no fundo a mostrar a sua incapacidade para o controlar e a gritar alto e bom som a sua desesperação.


Esta é uma das razões porque deves parar imediatamente de ler ou ver (tele)jornais ou filmes de terror.


Enquanto as notícias do dia-a-dia gerarem medo, enquanto a forma de vender for agressiva e geradora de medo, enquanto as pessoas agirem guiadas pelo medo e não pelo AMOR, a resposta será sempre a violência. Para quem não sabe, a violência gera mais medo. E não sei se já disse mas mais medo gera mais violência. (Não sei se estás a ver o filme...)


As máscaras sociais servem os seus próprios propósitos. Elas protegem-te de algo que não existe. Elas são profecias auto-realizadas. Elas protegem-te de algo que não será o que tu julgas que é quando tiveres as balls para experimentar por ti. As máscaras sociais são máscaras. Elas não são o teu Eu verdadeiro.


Para deitares a máscara ao chão precisas de ter a coragem de dar o peito às balas sem saber que as balas são bolinhas de papel enroladas em cuspo, precisas de te aceitar tal e qual como és, principalmente os teus defeitos, precisas de ser tu próprio e principalmente...precisas de parar de ter medo.


Como é que páras de ter medo?


Nada mais simples.


Tens medo que se saiba que és virgem porque tens 42 anos? Vai e conta a toda a gente que te aparecer pela frente.


Tens medo que se descubra na faculdade que no fim-de-semana passado levas-te uma tareia de uma senhora de 83 anos com osteoporose que inclusivamente fez questão de te puxar os boxeurs até aos ombros? Contrata uma agência de publicidade e monta um cartaz 30m X 20m no centro do polivalente com imagens do combate, panfletos com informação detalhada da contenda, t-shirts, canetas e porta-chaves alusivos ao evento.


Todos os teus amigos te acham o james bond do século XXII e ontem foste apanhado no escorrega do parque infantil por um vídeo amador enquanto gritavas “Abram alas para o Noddy”? Paga ao sacana que filmou a desgraça e em vez de enterrares as provas no quintal da tua vizinha, espeta com o vídeo no youtube só numa de ajavardar.


Para informações mais detalhadas dá um saltinho ao post anterior.


Para quaisquer outras dúvidas ou para reembolso de somas escandalosas de dinheiro entra em contacto comigo pelos mails do costume.



Não ajudes a perpetuar o medo, a TVI dá bem conta do recado sozinha  ;)


Ajuda a perpetuar a alegria, todos somos poucos.


David Veríssimo

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