domingo, 9 de maio de 2010

Como é que se cria intimidade?

Este blog promete "criação de relações intimas de excelência" mas para que uma relação intima seja de excelência é preciso saber primeiro o que é afinal uma relação INTIMA e como a criar.

Muitos homens ao ler o título deste post começaram já a esfregar as mãos de contentes.

“Porreiro, agora vou perder 10m da minha vida e este marmelo vai-me dizer exactamente como é que eu posso montar uma aura ‘plástica’ de intimidade com as mulheres.”

Eu realmente sou um mãos largas do caraças. :)

Só tenho uma pergunta: O que raio é uma aura plástica de intimidade? Isso come-se?...

Hmmm...

Há uns tempos um homem interessado nisto dos relacionamentos veio ter comigo e fez a pergunta clássica: “David, como é que eu faço para mostrar à moça X que tenho uma vida super-interessante e sou um gajo muita cool?”

Eu disse “Epá...torna a tua vida super-interessante e aprende a ser um gajo muita cool...”

Ele olhou para mim com ar desconfiado e voltou à carga:

“Pois tá bem...mas como é que eu faço para aparentar isso para ela?”

Eu disse “Não aparentes, sê.”

O que é que isto tem que ver com o post de hoje? Tudo.

A intimidade não pode ser forjada, contrafaccionada ou imitada. A intimidade é. Pura e simplesmente.

Ela pode ser criada e projectada sim mas nunca passará de uma cópia barata que nem um telemóvel da Mangsung ou uma T-Shirt da Reepock.

A intimidade tem de nascer espontaneamente como as ervas daninhas num canteiro de cebolas.

Um verdadeiro actor é aquele que deixa de actuar e se torna literalmente na personagem. Ele encarna-a de tal forma que, nem que seja só por momentos, ele passou a ser ela e ela passou a ser ele.

A única forma de a personagem ser correctamente representada é desaparecendo e fundindo-se com o representante e ambos deixarem de existir formando outra coisa qualquer.

A existência da personagem pressupõe a existência de alguém que a representa e a existência de um representante pressupõe falsidade porque quem representa actua, desempenha um papel, imita, ele não é simplesmente.

Por muito profissional que um actor seja e por muitas técnicas que domine ele não consegue dar vida a um personagem se realmente não a viver tal como não consegue criar intimidade pura, verdadeira e original se não a deixar nascer ao seu ritmo. Para isso ele tem colocar-se numa posição de vulnerabilidade e predispor-se a agir de modo a que isso aconteça.

Como? Já lá vamos.

Nunca te perguntas-te porque é que existem tantos actores que ao fazerem cenas íntimas num filme, ao terminar o dito ou mesmo durante a rodagem, começam a namorar e casam com a pessoa com quem contracenaram?

What’s goin’ on here?

À partida, se são actores, as cenas, íntimas ou não, não passarão de trabalho e se são profissionais, o que quer que tenham representado foi apenas um trabalho para o qual foram pagos e é suposto distinguirem a vida real das deixas e movimentos decorados com afinco.

Então porque as cenas rodadas os afectam?

Simples, porque as cenas foram genuínas.

Porquê?

Porque essa é a única forma de fazer passar o sentimento de genuína intimidade que o realizador lhes pediu. Eles não conseguem aparentá-lo e seguir com as suas vidas sem se envolverem porque, (não sei se já disse) a intimidade NÃO PODE SER FALSIFICADA.

É por isso que tantos actores que se envolvem numa tórrida novela de amor acabam por casar e é por isso que tantos actores que desempenham papéis tristes e melancólicos entram (continuam) em depressão depois de receberem o cachet.

Sendo então o mais específico possível na resposta à questão do título:

A intimidade cria-se como se cria tudo o que precisas de criar no teu caminho de evolução: Sendo honesto, sincero e 100% transparente contigo e com quem quer que seja que interajas.

Se fores 1mm desonesto ou mentiroso com a tua parceira, podes correr 1001 mulheres e nunca conhecer a verdadeira intimidade.

Sem intimidade não há cumplicidade e se lês-te a sondagem que fiz sabes que as mulheres dão nota 10 (de 0 a 10) a uma relação cúmplice.

Isto significa contar-lhe TUDO sobre a tua vida sem floreados e imprecisões. Tudo o que ela queira saber. Sem excepção. Precisam de contar a história de vida de cada um e demorar pelo menos 3h (cada um). Se queres criar intimidade com a tua namorada/esposa precisas de “perder” pelo menos mais meia-hora a falar sobre todas as namoradas que tiveste antes dela, o que fazias com elas, quando, onde, porquê e qual era a temperatura da sala na altura. Quais os teus medos e os teus defeitos. O que achas da melhor amiga dela e o que te passa pela cabeça quando a vês. Absolutamente tudo. Precisas de pedir-lhe que te oiça sem interromper durante 30m em que explicas o que adoras nela e em que sentido te sentes grato por ela ser assim. Deves também explicar o que detestas nela e em que medida isso te irrita. A seguir é a tua vez de ficar calado durante meia-hora.

“Não tens nada que ver com isso” ou “Não é da tua conta” é algo que pura e simplesmente não existe numa relação de intimidade.

Para criar intimidade precisas de retirar todas as incógnitas que estão entre vocês porque quanto menos tralha inútil houver aí mais fácil é de chegar junto.

Faz sentido?

Dificilmente te poderás aproximar de alguém que está separado de ti por um abismo de incertezas e um camião TIR atravessado.

Intimidade implica proximidade.

Haverá muitas pessoas que te dirão exactamente o contrário do que estás a ler neste momento. Nomeadamente os auto-proclamados ADEs (Artistas Do Engate) que dormem com 527 mulheres por noite e têm perfumes de hormonas com sabor a frutos-silvestres. Eles dir-te-ão que precisas de “manter o mistério” e NUNCA responder directamente às questões dela...que deves dizer algo completamente fora do contexto e a seguir dizer exactamente o contrário para as deixar confusas. Eles sabem que um coelho desorientado acaba por vir de encontro ao caçador. Eles dir-te-ão que se ela te perguntar a idade tu deves responder uma bacorada qualquer ou nem responder de todo. Dir-te-ão que se ela te perguntar que carro conduzes deves dizer “Uma furgoneta de caixa aberta de 1525”.

Sinceramente não há nada de errado nestas respostas, eu próprio uso e abuso delas, o problema põe-se no “NUNCA”.

Dizer bacoradas às mulheres só numa de “just for fun” é o melhor sentimento do mundo mas se só dizes bacoradas e nunca consegues ser directo e honesto porque és inseguro ou porque queres que ela pense que tu és o rei da macacada (que, basicamente, é o mesmo) então tens um problema.

Confundir ou manter as mulheres na ignorância só vai trazer-te mulheres atordoadas e separadas de ti por quilómetros e quilómetros de dúvidas e medos.

A única razão porque quererias que uma mulher não te conhecesse seria se não estivesses seguro do que tens para oferecer.

O que, por si, não tem mal nenhum...ninguém nasce ensinado.

Se és inseguro e achas que não tens as qualidades necessárias para atrair uma mulher fixe, no problem, o que tens de fazer é simplesmente aprender essas qualidades.

É claro que manter a mulher abananada sem saber muito bem o que pensar de ti e sem ver claramente quem tu és é muito mais fácil e divertido...

Faço-me entender?

É crucial que compreendas esta pequena diferença de pensamento: Manter as pessoas na dúvida e criar uma aura de mistério é muito mais atraente do que ser perfeitamente transparente, é um facto. O que se passa é que as relações resultantes daí são relações superficiais e fúteis que nunca passarão da cepa torta porque vivem exclusivamente da atracção que o mistério cria e não de um conhecimento e de um envolvimento profundo com o outro.

A mais bela representação nasce quando personagem e actor se fundem um no outro tal como a verdadeira intimidade nasce quando o homem e a mulher se tornam 1 só...sem nada que se interponha entre eles, sem medo do que o outro possa pensar se souber isto ou aquilo. Numa relação íntima esse medo não existe porque numa relação íntima não existe “o outro”, não existe o “Eu” e o “Ela” apenas o “Nós”.

Dizer-lhe a verdade sem espinhas assusta-te...eu sei. Só de pensares nalgumas das coisas que terias de dizer se começasses a ser verdadeiramente honesto com elas fazem-te sentir uma ansiedade sem par.

A verdade é sempre difícil de dizer e de ouvir. As pessoas têm medo de morrer por dizerem a verdade. Isto pode ser assustador se nos esquecermos que costuma morrer-se sim mas por dizerem a mentira.

Espera...

Pensando bem, há algo em ti que morre se disseres a verdade sim...

A IMAGEM QUE TENS DE TI.

A imagem bonitinha que crias-te na tua mente e que julgas que é quem tu és, morre sim.

A projecção do macho man que nunca se engana e raramente tem dúvidas morre sim.

E para que precisas tu disso?

Para engatar miúdas desorientadas que nunca chegarão a conhecer-te e com as quais criarás uma relação intima “plástica” para mostrar aos amigos da caça?

Fuck that shit!

Se queres relacionares-te com uma dúzia de mulheres fixe! Não vejo qualquer tipo de inconveniente nessa atitude. Desde que lhes digas a verdade...

Seres monógamo ou polígamo pouco ou nada interfere na criação de uma relação intima de qualidade. Dizer a verdade já é outra história...

Se andas com meia-dúzia de malucas mas todas elas têm conhecimento umas das outras porreiro! Eu não estou aqui para te dizer como deves conduzir a tua vida eu estou aqui para te dizer que quanto menos problemas tiveres em partilhar a informação com a(s) tua(s) parceira(s) mais hipóteses tens de criar uma poderosa e intima relação.

 

 “Sozinho, qualquer homem é sincero; é quando aparece uma segunda pessoa que começa a hipocrisia” – Ralph W. Emerson

David Veríssimo

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