quinta-feira, 18 de junho de 2009

O amor


Amor. Que palavra bonita não é? Estava aqui a pensar que nós arranjamos nomes muito bonitinhos e muito pequenos para as coisas que mais gostamos. Amor, sexo, mãe, pai, pão e água. Acabei de resumir a essência do ser humano em meia dúzia de palavras. Ok pessoal, até à vista, fiquei sem mais nada para dizer :)


Bem, mas esta singela palavra de 4 letrinhas apenas, é capaz de causar quase tantos estragos como a falta de sexo. Há os que gritam que amam os seus filhos enquanto os esbofeteiam e explicam que é para o bem deles. Há os que se suicidam por amor. Há os que matam alguém por amor. Há os que gastam 5000€ num colar de diamantes porque amam a pessoa a quem o oferecem.


Acho que se pode dizer que as pessoas dão grande importância a esta palavra. E eu não estou a dizer que não deviam. O que eu quero dizer é que ao menos que o saibam reconhecer…


Os Homens não se matam por amor, eles fazem-no por cobardia que é bem diferente.


Os Homens não matam alguém por amor, eles fazem-no por vingança e por ódio que é bem diferente.


O homem não oferece o colar de diamantes à mulher porque a ama, ele oferece-lhe o colar de diamantes porque pode e porque sente necessidade disso. O amor entre duas pessoas não tem nada que ver com os bens materiais que eles trocam. Se ele não tivesse posses para lhe oferecer o colar ele não a amaria menos, nem ela a ele. (Teoricamente, pelo menos… :) Não é que esteja errado o homem dar um colar de diamantes à mulher, é só que isso não tem nada que ver com o amor que ele, eventualmente, sente por ela.


As pessoas gostam tanto da palavra que a usam sempre que podem. Elas chamam amor a tudo o que “mexe”. Qualquer dia vamos ao supermercado e pedimos duas couves-de-bruxelas, um pacote de leite e 3Kg de amor. (Que na altura será um fruto tropical qualquer muito saboroso) ou levamos o carro à oficina e pedimos que o homem arranje o amor do motor. As pessoas amam o amor. Elas ouvem tanto falar das suas maravilhas e de como faz bem à pele que, vivem na ânsia de encontrar esse tal amor e as suas propriedades divinas e terapêuticas. O problema é que quando fracassam nessa tentativa ou quando se fartam de ao fim de uma semana inteirinha ainda não o terem encontrado, começam a chamar amor a cada vez mais coisas para poderem dizer ao mundo que já entraram nesta sociedade secreta e restrita do amor.


É sair à rua e ver grafitis de miúdos que ainda nem escrever em condições sabem e já dizem que amam a fulana tal do 6ºF. Casais de namorados que se conhecem há 1 mês dizem que se amam, 78 vezes por dia. Acabámos mesmo por chegar à situação em que para conhecer-mos alguém a ponto de dizer-mos “amo-te” já não demora um 1 ano…não demora 1 mês…não demora 1 semana…fuck, já não demora 1 segundo! Desta vez não precisamos nem de conhecer a pessoa! Chegámos ao ponto do fabuloso e indescritível “amor à primeira vista”. YEEEEEA! :D


Uma cena instantânea, incontrolável, incomparável, inata, incongruente, inimitável, inverificável, ingovernável e muitas outras palavras começadas por “in”.


Um conhecido meu aqui há tempos no estádio de futebol, também se apaixonou à primeira vista por uma moça que estava lá na outra bancada. Pena foi vir-se a descobrir que a princesa afinal era um príncipe…ainda perguntei se já não ia propô-lo em casamento mas não pareceu muito interessado. Talvez o amor à primeira vista seja rápido à saída como é à entrada.


Não há mal nenhum em estar na ânsia de se apaixonar…


E não há nada de errado com o amor à primeira vista simplesmente há quem não dê tanta importância ao físico.


Quem passa por esta experiência tende a arranjar uma forma de se auto-convencer a pensar que este tema não tem nada que ver com o físico. O que me custa entender é porque raio lhe chamarão então de “amor à primeira VISTA”...


Faz muito mais sentido eu apaixonar-me por alguém que conheci, por exemplo, pelo MSN ou por chamada telefónica INTERAGINDO com ela. Conversando com ela, experienciando a sua personalidade e forma de ser, sabendo os seus pontos de vista, etc. Aí teria muito mais propriedade para falar em amor do que através de um simples “olhar para o físico dela”.


Para haver amor tem de haver conhecimento e consciência, eu não posso amar alguém que não conheço ou que conheço parcialmente. Se vires uma mulher na rua, podes dizer que sentis-te uma gigantesca e inexplicável atracção mas confundir isso com amor é um erro crasso.


De qualquer maneira o exemplo do MSN que dei em cima também não é a solução porque se só interajo com ela, sem a ver, desconheço uma das suas facetas (neste caso o físico). Portanto, não é que o físico não esteja envolvido na equação, é que o físico não é tudo. Só depois de eu a conhecer como um todo é que posso saber o que sinto em relação a ela. Só depois de eu a conhecer física E mentalmente é que posso falar em amor.


Mas atenção, quando eu digo conhecer é conhecer mesmo. É que muitos casais namoram 9 ou 10 anos e depois resolvem casar e ao fim de 2 meses vai cada um para seu lado.


Seguindo o senso comum ninguém pode dizer que alguém que namora há 10 anos não conhece a pessoa com quem namora…


Feliz ou infelizmente eu não sou lá grande fã do senso comum.


Por isso eu acho que pode sim.


Se as pessoas se separam é porque a dinâmica de atracção mudou. E a dinâmica de atracção só muda se um dos dois mudar de alguma forma.


Ou seja, depois do casamento, o homem (por exemplo) muda e ela deixa de se sentir atraída por ele porque a pessoa que ali está deixou de ser a que ela conhecia.


Ela amava as facetas que conhecia nele e esta nova faceta veio alterar a química que existia entre eles.


É como ter 2 ventoinhas apontadas para o ar que mantêm uma bola de ping-pong a flutuar. Se aparece uma nova ventoinha num novo ângulo as forças que mantêm a bola no ar são alteradas e a bola cai.


Isto acontece porque as pessoas cometem o erro de relacionar-se com quem, na verdade, não conhecem e de quem, na verdade, não gostam.


Muitas vezes o problema é de quem muda porque estava a esconder facetas que tinha e que não tinha interesse em mostrar mas, em última análise, a culpa costuma ser do outro. Ou porque ignorou os sinais durante o namoro por ser uma situação “não tão séria”, ou porque não os soube ver.


Muitos dos problemas da nossa vida são-nos trazidos por pessoas que conhecemos e permitimos que façam parte dela sem na realidade terem qualidade para isso. Se todos fossemos selectivos com as pessoas com quem nos relacionamos 2/3 dos nossos problemas desapareceriam e as pessoas que não eram de qualidade ficavam com um incentivo extra para evoluírem.


Agora, é claro que para seres selectivo tens de ter bem claro na tua cabeça o que é uma pessoa de qualidade e uma pessoa medíocre. Se fores altamente selectivo mas tiveres como base de comparação principal o tipo de vestuário que as pessoas usam, vais continuar com o mesmo problema.


Vou-te dar um exemplo. Uma das regras de selecção que eu defini para mim é não permitir que uma pessoa que fume entre na minha vida. Eu não decidi isso porque é proibido fumar em locais públicos ou porque é um gesto feio, eu decidi isso porque compreendo o que esse gesto significa. O que é que uma pessoa que fuma está indirectamente a dizer? Ela está a dizer “Eu não tenho respeito pelo meu corpo”, “Eu sei que isto faz um mal terrível à saúde mas vou arriscar”, “Eu tenho perfeita noção que isto é ridículo mas que se lixe”, “Eu levo a minha vida segundo aquilo que me o meu cérebro Límbico (emoções) me diz para fazer e não segundo o que é racionalmente melhor para mim”.


Já para não falar no facto de a pessoa estar a pagar para se matar, quer se queira quer não, este tipo de mentalidade vai acompanhá-lo em muitas outras vertentes da sua vida e eu não acredito que um suicida possa ajudar-me a manter a mentalidade que eu quero para mim porque grande parte do que tu és vem das pessoas com quem tu lidas.


A pessoa pode matar-se à vontade, a vida é dela. O que eu digo é que não vai ser ao pé de mim, nem com o meu aval.


Fugimos um pouco ao tema do post nesta parte final mas também considero muito importante a questão da selecção consciente. É mais que certo que em breve colocarei um post sobre este tema.


Até lá, desfruta de companhias de qualidade e oferece qualidade às tuas companhias:


David Veríssimo
Planeta.marte@portugalmail.pt ou planeta.venus@portugalmail.pt

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu sempre achei que apesar da maior ou menor qualidade das pessoas que se cruzassem no meu caminho, era minha obrigação ser o melhor possivel para toda a gente e dar o melhor de mim sempre! Mas o que é certo é que pessoas mediocres nos arrastam sem dó nem piedade para o seu poço escuro e só nos arranjam é problemas e chatices, desviando-nos do nosso caminho de luz e felicidade natural!

Selecção consciente torna-se importante por causa disso mas quando se olha à nossa volta e se verifica que a maior parte das pessoas está tão longe de aumentar o seu nivel de consciencia e que até menospreza incentivos nesse sentido, parece que custa desviar de quem nos é próximo (há um certo apego, será amor?)... há o hábito enraizado de gostar de tais pessoas e de lidar com os seus problemas e quase que me sinto egoista por me afastar na tentativa de apenas encontrar qualidade que rima com felicidade!!! egoista por abandonar o barco em vez de conseguir fazer aumentar a qualidade de tais tripulantes!!! Mas parece que isso não está ao meu alcance, só muda quem quer mudar, só ouve quem quer ouvir, só evolui quem quer evoluir... Mais ninguém pode fazer nada a não ser a própria pessoa... e o amor que sinto faz-me conhecer a frustração por não poder fazer nada de nada por todos aqueles que amo!!!

David Veríssimo disse...

(Resposta ao comentário de 20 de Junho de 2009 1:56)

Correctí­ssimo, deves dar o teu melhor independentemente da pessoa com quem estás a
interagir. Quanto a algumas te arrastarem para o seu "poço escuro", isso não tem
necessariamente de ser assim. Só te arrastarão com elas se, quando caírem para o
fundo do tal poço, tu estiveres...preso a elas. Faz sentido?

Tu tens uma vontade grande de ajudar o próximo e isso é uma qualidade de grande valor
mas essa tendência de "ajudar" alguém através do envolvimento nos seus problemas e do
"fazer ver o que é melhor para ele" não te vai ajudar muito. É uma técnica inócua e
sem sentido, chegando muitas vezes a ser até prejudicial e contraproducente.

Como dizes, e bem: Não é possí­vel ao sujeito A mudar a mentalidade do sujeito B.
Apenas o sujeito B tem o poder de mudar a sua forma de pensar e agir.

Tu podes dizer 1001 vezes ao teu irmão que ele devia deixar de fumar e apresentar-lhe 52 argumentos diferentes mas sabes que mais? Provavelmente não ia valer de nada.

A seguir podias chorar baba e ranho e pedir pelo sangue que vos une para que ele deixasse
o tabaco e ele aí­ até o podia fazer mas sabes que mais? Ele fê-lo para não te ver
triste não o fez porque o seu nivel de consciência tivesse verdadeiramente mudado. O
mais certo seria ele continuar a fumar ás escondidas de ti, apenas para não te magoar.

Resumindo: Ao "ajudares" o teu irmão conseguis-te apenas "ajudar-te" a ti próprio e
aumentar ainda mais o problema inicial.

Em vez de tentares ajudar as pessoas oferecendo-lhes uma noz que eles não conseguem NEM
QUEREM partir, fornece-lhes antes quebra-nozes para que no caso de ELAS decidirem
conscientemente mudar, o possam fazer.

Essa tua frustração é um exmeplo da típica derrota do cérebro racional face ao emocional e ao físico. Ou seja, tu consegues entender perfeitamente que não é a dar nozes a uma pessoa que não tem dentes que a consegues alimentar (Cérebro racional) mas mesmo assim continuas a martirizar-te por isso (Cérebro emocional) e a sentir que daves fazer alguma coisa (cérebro físico).

Não fazer nada também é uma acção e um problema sem resolução resolvido está.

Não se trata de abandonar o barco porque não há barco para abandonar. Cada pessoa navega no seu próprio bote de plástico. E cada pessoa é responsável por mantê-lo à tona. Se vês um bote em que a pessoa que lá está dentro está a fazer um espectáculo de malabarismo com facas e motosserras enquanto as pessoas lhe atiram dinheiro tu tens duas opções:

1ª Entras no bote dessa pessoa, avisa-la que não devia estar a fazer aquilo porque é perigoso e ela diz-te que "aquilo" é a vida dela e ri-se na tua cara. Ficas nervoso porque queres impedir uma tragédia e não estás a conseguir, por isso insistes no aviso. Ela grita-te para saires do bote. Tu dizes que estás só a tentar ajudar. Ela diz que não pediu a tua ajuda. Tu dizes que vais ajudar na mesma. As coisas começam a ficar agitadas. O teu bote está a afastar-se. Nenhum dos dois obtém o que quer. Nem tu sais do barco nem ela pára o show.

2ª Concentras-te em ajudar aqueles que querem (logo, podem) ser ajudados.

Qual destas opções te parece a mais acertada?...

Se algum bote vier ter contigo porque nota que tem um furo, acho que deves ajudar o melhor que conseguires porque se foi ter contigo é porque consegue ver o furo e está disposto a remendá-lo. Caso contrário, não interfiras. Não tentes controlar o destino do bote de toda a gente.

Pode custar-te muito ver alguém que amas seguir o caminho das trevas mas se tentares acompanhá-lo enquanto tentas fazê-los mudar de rumo, provavelmente vão ser dois a entrar na escuridão...

Obrigado pelo teu comentário

Anónimo disse...

É isso, a partir de agora escolho exclusivamente a 2ª opção: "Concentras-te em ajudar aqueles que querem (logo, podem) ser ajudados."

Agradeço estas palavras!