quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Quanto darias para que nunca te mentissem? 4ª parte: That’s a wrap!

Ok, vamos finalizar esta nossa viagem ao mundo obscuro da linguagem do corpo falando muito ao de leve em mais 3 pontos da mais alta importância nesta matéria. (Isto vai sair no teste)

O primeiro ponto é aquilo a que os entendidos chamam de espelhamento, que, como o próprio nome indica, não é mais do que uma pessoa espelhar/imitar os gestos de outra. As pessoas fazem-no para atingir 3 objectivos: Estabelecerem um vínculo mais forte com determinada pessoa ou grupo, criarem sintonia entre todos ou para se sentirem aceites.

Como forma de vincar ainda mais o objectivo com que é feito, isto acabou por evoluir para mais vertentes de espelhamentos. Um dos mais óbvios é o espelhamento da roupa. Nos adolescentes, por exemplo, isso levou a que se formassem grupos onde para além de se comportarem da mesma maneira, todos se vestem igual. Os góticos vestem assim, os dreads vestem assado e da cultura Hip-Hop vestem cozido e grelhado.

A finalidade desta forma de vestir única é a de fazer a pessoa sentir-se segura e aceite através da arte do espelhamento.

Há depois quem aproveite o espelhamento para estabelecer um vínculo mais forte com determinada pessoa ou grupo e criar a ideia de sintonia, como é o caso de uma equipa de nadadores olímpicos. Dou este exemplo porque se se poderia dizer que no futebol pode “dar jeito” ao jogo em si que todos os jogadores vistam da mesma forma, na natação não há essa necessidade. Na natação, as equipas apenas se vestem de forma igual para darem a ideia de estar unidos, sintonizados e fortes conjuntamente.

Outro excelente exemplo é o acto de bocejar. Muita gente anda para aí a dizer que bocejar serve para oxigenar o organismo e o cérebro e uma data de disparates sem sentido. Se bocejar fosse usado simplesmente para oxigenar, as pessoas não sentiriam necessidade de o fazer só por verem alguém a fazê-lo. A verdade é que a sua função principal é a de criar sintonia com outras pessoa, pois como já deves ter notado quando alguém boceja num grupo, várias pessoas começam subitamente a bocejar também...

  

E agora que viste estas imagens estás a sentir uma estranha necessidade de o fazer também (se é que não o fizes-te já)...certo? Vá admite :)

Ok, boceja e espreguiça-te lá à vontade, eu aguardo.

...

...

Já está? Fixe, continuemos.

O facto de teres acabado de sentir esse impulso de bocejar significa que isto é algo com que vimos “programados de fábrica” para fazer. É algo que começas-te a fazer logo no ventre da tua mãe para criares um vínculo com ela. Todas as tuas funções corporais, incluindo os batimentos cardíacos eram sincronizados ao ritmo dos da tua progenitora. Ou seja, o espelhamento é algo natural e inato nos seres humanos e é algo que fazemos vezes sem conta de forma inadvertida.

A natureza quis que assim fosse pois, bocejar permite demonstrar se um grupo está ou não em sintonia/coeso e um grupo que se sente coeso, cooperante e confiante tem mais chances de arranjar comida, menos chances de perder uma batalha com outra tribo e é, no geral, mais feliz.

É também por causa do espelhamento que ter música de fundo num encontro romântico resulta tão bem. A música serve para marcar o ritmo e conseguir criar-se uma maior sincronização entre o par uma vez que é mais fácil ajustarem-se ao ritmo da música do que criarem um ritmo só deles.

Repara só:

Ritmo = Sincronização. Sincronização = Harmonia. Harmonia = Sentimentos de conforto e bem-estar. Sentimentos de bem-estar = Atracção. Isto significa que Ritmo = Atracção e que Sincronização = Conforto. Está tudo intimamente ligado pois todas as peças ligam bem com todas e nenhuma existe sozinha.

Não pode haver atracção sem ritmo. Tu não podias ter nascido se não existisse um sentido de ritmo pois sem ritmo não há atracção e sem atracção não há bem bom. Sem ritmo não conseguirias sequer conversar! O ritmo comanda a vida. É por isso que a música mexe com as pessoas de todo o mundo. É por isto que elas sentem uma vontade incontrolável de se mover ao som do batuque. É tudo uma exibição das suas capacidades para acompanhar o ritmo.

Dançar em conjunto é a única forma socialmente aceite de se fazer amor.

É algo altamente sexual porque é feito da mesma forma que uma relação sexual: Ritmo. É por isso que as mulheres são loucas por música e por dançar na pista. Elas sabem que o ritmo é algo de muito atractivo e de uma importância extrema numa relação.

Ok, no segundo ponto precisas de dominar o conceito de proxemia. Que alarvidade vem a ser esta? Bem proxemia não é mais do que o estudo da distância que as pessoas conservam entre si. O que é que tu tens a ver com isso? Tudo. Se queres dominar o tema da linguagem corporal tens de compreender em que consiste a proxemia.

Toda a gente tem um espaço à volta do corpo (uma espécie de bolha invisível) que considera ser o seu espaço individual. Uma vez que o vê como o SEU espaço individual, isso significa que ele só permite a invasão desse espaço a pessoas com quem tenha uma grande intimidade.

Esse espaço não é sempre fixo, as pessoas que tenham tido uma educação com mais toque físico tendem a ter uma zona pessoal mais pequena e por essa razão tendem a invadir a zona pessoal dos outros inadvertidamente.

Este espaço individual está dividido em duas zonas:

Zona íntima: Esta é de longe a mais importante. Principalmente a subzona entre os 0 e os 14cm. Aqui só entra quem nos quer bater ou quem nos quer beijar...

Zona Pessoal: Esta é a “distância da amizade” se queres fazer amizade com alguém deves manter-te nesta zona. Mais à frente e ele fica intimidado, mais a trás e ele ignora-te.

Para lá da Zona Pessoal existem mais duas zonas:

Zona Social: Nesta zona mantemos as pessoas que não conhecemos muito bem, como acontece quando o técnico da tv cabo vai lá a casa desbloquear o canal da playboy. 

Zona Pública: Sempre que nos dirigimos a um grupo alargado, é esta a distância que escolhemos. É devido a respeitarmos sempre esta distância que é possível determinar com grande acuidade quantas pessoas estão num qualquer aglomerado. Basta medir o espaço que elas estão a ocupar.

Portanto, conforme sobe a intimidade mais zonas se vão invadindo. E elas podem ser invadidas não só pelo próprio corpo mas também por animais de estimação ou mesmo objectos pessoais da pessoa. Se uma mulher colocar a sua bolsa um pouco dentro do teu lado da mesa isso é um sinal de que ela deseja subir no nível de intimidade. Canetas, talheres, copos de vinho, chaves do carro, tudo pode ser usado para invadir a zona de outra pessoa tal como peças num tabuleiro de xadrez. Aquilo que a outra pessoa faz com esse objecto diz o que ela achou daquela jogada.

Muitas pessoas não dão grande importância a este ponto e pensam nos documentários da BBC em que o animal X está a tentar marcar ou proteger o seu território. Eles lutam por território quase como se as suas vidas dependessem disso e muitas pessoas podem achar este comportamento ridículo e “animalesco”...mas só até ganharem noção que, neste ponto, nós comportamo-nos exactamente da mesma maneira que um animal selvagem. Erigimos grandes muros para marcar território, construímos cercas electrificadas com arame farpado e imponentes portões, temos tido, desde tempos esquecidos, guerras constantes por causa de território e, nas nossas relações pessoais e sociais, o território desempenha um papel fundamental.

Nós vimos programados para dar uma importância desmedida ao território e grande parte da nossa vida passamo-la a demarcá-lo. Nós dividimos o mundo em continentes, dividimos continentes em países, dividimos países em distritos, dividimos distritos em cidades, vilas e aldeias, que por sua vez são divididos em bairros, que por sua vez são divididos em ruas...é muita demarcação... Se tivessemos de mijar como os animais estávamos feitos... :)

Mas é inegável, nós somos animais territoriais.

Conclusão: Como forma de criar sintonia, vai espelhando os gestos da pessoa com quem estás a falar (excepto se for um gesto que denuncie um sentimento negativo), mantém a tua linguagem corporal descontraída e aberta, não invadas uma zona para a qual não foste convidado e sorri.

O último ponto que deves ter sempre em mente é: Diferenças Culturais.

Este gesto significa “OK” para um Ocidental, “Dinheiro” para um Japonês e “Zero” para os Franceses. Se tentares fazer este gesto na Turquia vais achar um novo significado. (E vais preferir não ter descoberto).

Se tentares apanhar boleia na Grécia também vais ter uma surpresa.

Ou seja, muitos gestos de linguagem corporal mudam consoante a zona do globo de onde a pessoa provém. As Zonas Pessoais também variam consoante o país. Um Italiano tem zonas intimas mais pequenas que um Britânico ou um Português.

E pronto, é isto. Só falta mesmo voltar a realçar que tudo o que escrevi aqui não passa de uma bem-intencionada mas ridícula tentativa para expor um tema tão simplesmente complexo. Isto foi apenas um rebuçado tirado de uma pequena caixa escondida no fundo do armazém da fábrica de rebuçados. Cabe-te a ti, aprenderes mais sobre o assunto e, se puderes, partilhá-lo aqui com toda a gente.

Não uses a linguagem corporal para manipular as pessoas, usa-a para as conquistar, atrair e deixar à vontade. Usa-a para mostrar a melhor parte de ti. Talvez possas pensar que isso é manipulação mas para isso tens de considerar que usar maquilhagem ou pentear o cabelo também é...

David Veríssimo

planeta.marte@portugalmail.pt ou planeta.venus@portugalmail.pt 

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